domingo, 14 de março de 2010

O melhor que tudo é crer em Cristo

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Na nossa literatura e na nossa arte em geral abunda o tema religioso, que está em muitos dos seus melhores momentos. Mas a juventude, educada muitas vezes num ambiente adverso ao Cristianismo, não chega a saber disso. É como se a arte em geral cantasse apenas o pensamento dos nossos adversários, o que é evidentemente falso.

O trabalho sobre poesia religiosa que vamos apresentar saiu originalmente num jornal paroquial.
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Verdade, Amor, Razão, Merecimento

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Começamos aqui como que um cancioneiro religioso. Não prometemos muito em virtude das nossas limitações, não do tema. Abrimos com um dos mais significativos sonetos camonianos.

Quando o autor começou a escrever poemas, já o sonho renascentista dera o que tinha a dar. Ele é filho do Maneirismo, o que é bem importante.

Depois de reconhecer as limitações dos filósofos perante o desconcerto do mundo e mesmo dos teólogos que não atendem ao concreto do homem, o poeta chega à grande constatação existencial, muito maneirista: “o melhor que tudo é crer em Cristo”.

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Verdade, Amor, Razão, Merecimento
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento
e não sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.

Doutos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas
e por isso é melhor ter muito visto.

Coisas há aí que passam sem ser cridas
e coisas cridas há sem ser passadas,
mas o melhor que tudo é crer em Cristo.



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Cântico dos Louvores da Mãe Admirável, Maria Santíssima, Senhora Nossa

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Sabemos que a poesia nasce duma fonte que fica mais além que a disposição dos textos em verso ou prosa. O autor do que se transcreve abaixo é um célebre prosador seiscentista, o P.e Manuel Bernardes, e fala das excelências de Maria Santíssima. Fá-lo numa linguagem sábia, poética e entusiasta, convocando, ao modo da tradição mística, todo o Universo para o louvor de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
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Louvai, obras do Senhor, a Senhora porque Ela é a mais nobre, a mais excelente e perfeita obra do Senhor!
Louvai, Sol e Lua, a Senhora porque a Senhora é esco­lhida como Sol e formosa como a Lua!
Louvai, estrelas do firmamento, a Senhora porque Ela é a radiante estrela que guia os navegantes do mar deste século!
Louvai, nuvens do Senhor, a Senhora porque Ela é a nuvem leve em que desceu a nós o Verbo de Deus humanado!
Louvai, orvalhos da manhã, a Senhora porque Ela é o velo de Gedeão que embebeu o celeste orvalho do Divino Verbo!
Louvai, neves e geadas, a Senhora porque o candor de sua pureza é o refrigério dos incentivos de nossa carne!
Louvai, raios e relâmpagos, a Senhora porque Ela é o res­plendor claríssimo e eficacíssimo da luz da Divina Graça!
Louvai, todas as fontes e mares do Senhor, a Senhora porque a Senhora é fonte fechada com o selo de Deus, é o poço de águas vivas e o mar de todas as graças juntas!
Louvai, plantas e flores do campo, a Senhora porque Ela é a rosa de Jericó, o lírio entre espinhos, a palma de Cadés, o cedro do Líbano, a árvore da Vida, que nos produziu o fruto felicíssimo da vida eterna!
Louvai, montes do Senhor, a Senhora porque a Senhora é o monte santo de Sião, onde se fundou o templo vivo da Humanidade de Cristo!
Louvai, meninos inocentes, a Senhora porque de seu intacto ventre se dignou Deus nascer Menino para nos res­tituir à primeira inocência!
Louvai, sacerdotes do Senhor, a Senhora, pois ela foi a grande Sacerdotisa que em suas mãos tomou e ofereceu a Hóstia viva em perene sacrifício que tira os pecados do mundo!
Louvai, profetas do Senhor, a Senhora, porque Ela é a profetizada Profetiza a quem chegou o Espírito Santo com sua sombra para conhecer o Rei que tem por nome «Apres­sa-te a vencer e despojar teus inimigos»!
Louvai, Mártires do Senhor, a Senhora porque Ela foi mais que mártir, não só de Cristo e por amor de Cristo, como vós o fostes, mas no mesmo Cristo, cuja cruz a cru­cificava!
Louvai, Virgens do Senhor, a MARIA porque MARIA é da Virgindade a forma, a glória e o magistério! (...)
Todos os Santos, todos os Espíritos Bem-aventurados, todas as criaturas do Céu e terra, louvem e exaltem e magnifiquem a MARIA, porque MARIA é a digníssima Rainha e absoluta Senhora dos Anjos e Santos e de todas as criaturas!
Glória a Deus Pai, de quem MARIA é filha primo­génita; glória a Deus Filho, de quem MARIA é Mãe ver­dadeira; glória a Deus Espírito Santo, de quem MARIA é Esposa escolhida; glória à Beatíssima Trindade de quem MARIA é sacrário animado, e agora e sempre e por séculos de séculos!
Ámen.

P.e Manuel Bernardes, Luz e Calor, II Parte, Opúsculo IV, séc. XVII

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Miserere mei!...

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A história da sanha anticristã que alastrou na Europa especialmente a partir da segunda metade do séc. XIX é paralela à história, pouco divulgada, da conversão de nomes notáveis. Lembrem-se Baudelaire, Paul Claudel, Francis Jammes, Charles Dubos, etc.; o próprio Renan manifestou arrependimento à hora da morte. Entre nós também houve regressos célebres, como os de Guerra Junqueiro, Gomes Leal e outros. Eça de Queirós, que nos últimos romances manifesta uma aproximação à tradição católica do nosso país, terá morrido a rezar, segundo autores fidedignos.
O soneto Miserere mei!... (Tende piedade de mim!...) que se transcreve, de Gomes Leal (1868-1921), é o poema do convertido que encontra a verdade pelas mãos da Mãe de Deus – Nossa Senhora das Dores, no caso.
A epígrafe «Les Mères! Les Mères!» (As Mães ! As Mães!) vem do Fausto de Goethe, certamente na célebre tradução francesa de Gérard Nerval.
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Les Mères! Les Mères!
Faust
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Às risadas entrei numa igreja às matinas.
— Conservava-se ateu meu coração corrupto. —
Eis vejo sobre o altar o estranho ser de luto,
Rasgado o coração por sete espadas finas.
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Chorei. Prostrei-me em terra. — Essas formas divinas
Não as pude fitar de rosto calmo e enxuto!
Era a mão maternal... era o braço impoluto...
Que afastavam meus pés das ervas das ruínas!
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Era o bafo de mãe, a indulgência, o carinho,
Era a asa que afaga o implume passarinho,
A mão que enxuga a testa ao menino, a dar ais...
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Ó Mãe triste! Ó Mãe terna! Ó Mãe dos olhos castos!
Acolhe esta alma em pranto, hirta ao frio, de rastos,
- Qual triste enjeitadinha à porta de seus pais!

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Os milhões de áureos lustres coruscantes

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Há alguns anos o Papa João Paulo II apelava para o cultivo da reflexão filosófica, aquela reflexão exigente que faz as perguntas mais radicais sobre o homem e sobre o mundo. Ela, sabemo-lo, conduz ou ao absurdo do sem sentido de tudo - mas o absurdo é absurdo - ou desemboca na afirmação duma Causa Incausada, dum Ser Supremo criador e providente. Hoje parece que pouco falta para que a escola ensine a não crer em Deus e por isso a juventude anda no desvario que se conhece e que tenderá sem dúvida a agravar-se.
Nós cristãos afirmamos um Deus que é Pai, que enviou o Filho para ser a Luz verdadeira do mundo, que morreu, mas ressuscitou.
O soneto seguinte é de Bocage e intitula-se A existência de Deus provada pelas obras da criação. Mesmo que a nossa pessoal simpatia por este poeta nunca tenha sido muito grande, agora que começamos a verificar como se fala dele tão levianamente, muito nos apraz mostrar como, nos últimos anos da sua breve vida, ele assumiu uma postura de profunda vivência religiosa, manifesta em variados textos e de que o seguinte é exemplo.
Num salmo, diz-se que «os Céus cantam a glória de Deus». Cantam-na os Céus e canta-a toda a criação. O soneto parece comentar essa afirmação do salmista:
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Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo:
O Sol e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que amima os ávidos amantes:
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As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes:
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O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, o tronco mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga:
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E para crer num braço, autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo.

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A Cristo Nosso Senhor no Presépio

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A cultura de esquerda que a escola veicula passa tendenciosamente ao lado de muita coisa que devia ser estudada. No fundo, distorce a realidade e do pluralismo pouco nela existe. Quando um dia a juventude actual verificar que foi enganada, que lhe foi sonegado o conhecimento de tantas coisas boas, não imagino qual será a sua reacção.
O tema religioso está em muito lado da poesia de Camões e produziu alguns óptimos poemas. Mas os alunos nem chegam a saber disso. Dois sonetos seus são de tema particularmente natalício; veja-se aqui um.
A Cristo Nosso Senhor no Presépio é uma meditação percorrida de subtilezas sobre as contradições do presépio: está ali o Deus-homem, a “mor beleza” na “nossa carne”; na maior riqueza, a “mor pobreza”, etc. O poeta admira-se e interroga-se. A insistência na pobreza, na simplicidade, na fragilidade do Menino Deus parece ter débito para com o franciscanismo. A linguagem teológica do poema é naturalmente de inteira correcção.
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Dos Céus à Terra desce a mor Beleza,
Une-se à nossa carne e a faz nobre;
E, sendo a humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à mor riqueza.
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Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;
Que, como ao mundo o seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo Céu despreza.
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Como? Deus em pobreza à terra dece?
O que é mais pobre tanto lhe contenta,
Que este somente rico lhe parece.
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Pobreza este Presépio representa;
Mas tanto por ser pobre já merece,
Que quanto mais o é, mais lhe contenta.

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Magnificat!

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O poema que desta vez apresentamos é uma versão rimada e ligeiramente retocada do Magnificat evangélico. O autor desse trabalho de artista do verso é Augusto Gil (1873-1929).
O Magnificat é o canto de louvor e gratidão com que Nossa Senhora responde à saudação da sua prima Isabel. S. Lucas, em cujo Evangelho o poema se encontra, talvez ainda nem tivesse nascido aquando desse momento memorável.
A Mãe de Jesus devia ter uma clara sensibilidade poética, por muitas razões. Basta que Ela é a «Sede da Sabedoria». Mas ela é também a que vai à frente de todas as almas místicas e portanto, como elas, teria inclinação para a linguagem poética.
Sabe-se contudo que este poema se aparenta com o «Canto de Ana», que vem no princípio do cap. 2 do Livro I de Samuel. Não se perde nada em fazer a comparação (de notar que no «Canto de Ana» não há anúncio profético).
Vejamos então esta versão rimada do poema de Nossa Senhora:
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A minha alma engrandece,
Glorifica o Senhor!

E todo o meu espírito estremece
E crepita e exulta e resplandece
Em Deus, meu Salvador!...

Beijo de orvalho na folhinha de erva
Baixou Deus da vertigem do infinito
Por sobre mim, sua humilhada serva,
A eterna luz do seu olhar bendito...

E fiquei para sempre iluminada
Nesse piedoso e límpido clarão!
E hão-de chamar-me bem-aventurada
Sempre! de geração em geração…

O seu nome é sagrado:
E o seu poder que nunca terá fim
(Por ter em mim poisado)
Não vistas maravilhas fez em mim!

E aos que o temem e a quem dele implora
Misericórdia e protecção clemente,
Deus encaminha-os — pela vida fora
E sempre, eternamente...

Manifestou a força do seu braço
E aos vãos, aos de orgulhoso pensamento,
Desfê-los — como a poeira, pelo espaço,
No turbilhão do vento...

Derruiu tronos e reis — pô-los de rastros...
— E aos humildes ergueu-os para os astros!
Deixou os ricos sem riqueza e nome
— E encheu de bens os que sentiam fome!
Com desvelado e carinhoso amor,
Protegeu Israel, seu servidor,
Marcou-lhe os firmes passos com sinais
De Bênçãos e clemência,
Conforme prometera a nossos pais,
A Abraão e a toda a sua descendência...

E eis que será perpetuamente assim
Nos séculos dos séculos sem fim!...

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Da Paixão

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A cultura oficial passa muito ao lado da nossa rica tradição religiosa. Ignora-a ou até a evita. Promove tudo o que a ela se opõe. E não se falando dela, é como se não existisse.
Quem é que hoje ouve falar do Fr. Agostinho da Cruz (1540-1619)? E todavia ele é um inspirado poeta místico.
Como estamos a caminho da Páscoa, vamos ler hoje dois sonetos seus que abordam o tema da Paixão. Olhando a Cruz, muitas vezes de todo nos esquecemos dos seus horrores. Um pouco ao modo da Beata Alexandrina, Fr. Agostinho da Cruz tem consciência aguda desse sofrimento e do seu sentido redentor. Ele sabe que aquele sofrimento lhe diz respeito, como diz respeito a cada um de nós.



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Se Vós, meu Senhor, dais consentimento
Para ser dos inimigos preso e atado,
Não me negueis convosco ser levado,
Atado a Vós, sequer do pensamento.
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Que já que em mim não há merecimento
Para serdes de mim acompanhado,
Pelo menos ser muito desejado
Não deixe de crescer um só momento.
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Não faltam, Senhor meu, cordas banhadas
No próprio sangue vosso para atar
As entranhas das vossas desatadas;
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Não faltam pregos vossos, que me dar,
Nos vossos pés e mãos, na cruz pregadas,
Para convosco nela me pregar.

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Às Chagas

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Divinas mãos e pés, peito rasgado,
Chagas em brandas carnes imprimidas,
Meu Deus, que por salvar almas perdidas,
Por elas quereis ser crucificado!

Outra fé, outro amor, outro cuidado,
Outras dores às vossas são devidas;
Outros corações limpos, outras vidas,
Outro querer no vosso transformado!

Em Vós se encerrou toda a piedade,
Ficou no mundo só toda a crueza;
Por isso cada um deu do que tinha:

Claros sinais de amor, ah, saudade,
Minha consolação, minha firmeza,
Chagas de meu Senhor, redenção minha!

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Amor de Deus

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O nosso arciprestado (o de Vila do Conde e Póvoa de Varzim) teve sacerdotes que foram especialistas em diversas áreas. Conhecem-se dois em particular que se deram à poesia, os padres António Martins de Faria e Meira Velosos.
O primeiro (Barcelos, 12/9/1837 – Póvoa de Varzim, 16/10/1913) foi pároco de Balasar e depois de Beiriz. Mas foi também arcipreste e jornalista. Publicou dois livros, Vozes de Alma (1912) e Últimas Vozes (1913) e ainda um opúsculo com uma biografia de Santa Eulália em verso. Esta adolescente mártir é padroeira de Balasar e Beiriz.
Desta vez vamos apreciar dois poemas do padre António Martins de Faria; o primeiro intitula-se Amor de Deus.
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Ou me sente, à noite, à mesa,

Os meus livros folheando;

Ou ande o meu giro dando

De manhã pela devesa –
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Ou suba, com sol, ao monte,

Para ver rolar o mar;

Ou desça ao val’, com luar,

Para ouvir gemer a fonte –
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Ou a colher violetas

Me quede no meu jardim;

Ou, feito criança, enfim,

Corra atrás das borboletas –
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Em toda a parte, Senhor,

Como diz um grande santo,

Me sinto com doce encanto

Cercado do teu amor.
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O P.e António de Faria pelos vistos era um bom conversador e, como aqui diz, levava a vida sem grandes dramas, de um modo simples.

O próximo poema intitula-se Existência de Deus. O autor afirma a existência de Deus apoiando-se no espectáculo da criação, pois, como escreve, não pode haver “obras sem obreiro”. O mundo não se criou a si mesmo nem muito menos estabeleceu as regras que o governam.

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Existência de Deus

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Ao ver o céu, a terra, o mar, o monte,

Num Ser Omnipotente,

Que foi e fora sempre antes de tudo,

Que forma deste mundo o conteúdo,

Eu creio firmemente.
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Com Ele pode o homem, quando queira,

De tudo dar razão,

Desde o ente mais vil, em seu conceito,

Até ao ser mais nobre e mais perfeito

De toda a criação.
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Com Ele, o ser do sol, o ser da lua,

Da luz e mais do ar;

Com Ele, os vendavais, as maresias,

Os frios, os calores, noites e dias,

Bem pode perscrutar.
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Unido ao corpo seu estreitamente,

Um outro ser também

Com Ele, pode o homem descobrir,

Capaz de bem amar e bem servir

Na terra o Sumo Bem.
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Ao contrário, porém, sem Ele, o Mestre

De todo o magistério,

O mundo para mim, p’ra minha mente,

Foi, é e será eternamente

Insondável mistério.
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Para se crer, sem Ele, em tantos seres,

Fora mister primeiro

Ao estulto ateísta demonstrar

Que é dever da razão acreditar

Em obras sem obreiro.
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Mas é impossível; e portanto

Num Ser Omnipotente,

Que foi e fora sempre antes de tudo,

Que forma deste mundo o conteúdo,

Eu creio firmemente.
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A estrofe final do poema repete quase toda a primeira, reiterando assim a afirmação da fé do poeta.


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Pai-nosso

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Na nossa história há pelo menos dois homens notáveis com o nome de João de Deus: S. João de Deus, que é sem dúvida um dos nomes mais extraordinários do nosso passado, embora quase ninguém dele fale, e o poeta João de Deus.
Falemos agora deste último. Ele tem um lugar muito especial na nossa cultura. Quando se discutiam as ideias mais loucas sobre como ensinar as crianças a ler e a contar, apresentou um livro inovador e de grande sucesso, ajustado ao objectivo em vista, a Cartilha Maternal. Os seus contemporâneos tiveram-no em conta de grande poeta.
Veja-se este seu poema:

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Pai nosso, de todos nós,
Que todos somos irmãos:
A ti erguemos as mãos
E levantamos a voz.
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A ti que estás no Céu
E nos lanças com clemência,
Do vasto, estrelado véu
Os olhos da Providência,
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Bendito, santificado
Seja o teu nome, Senhor!
Inviolável, sagrado
Na boca do pecador!
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E venha a nós o teu Reino!
Acabe a vil cobiça!
Reine o amor, a justiça
Que pregava o Nazareno,
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De modo que seja feita
A tua santa vontade,
Sempre a expressão perfeita
Da justiça e da verdade!
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Seja feita assim na Terra
Como no Céu, onde habita
Esse cuja mão encerra
A criação infinita!
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O pão nosso nesta lida
De cada dia nos dá…
Hoje, e basta; a luz da vida
Quem sabe o que durará?
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E perdoa-nos, Senhor,
As nossas dívidas; sim!
Grandes são, mas é maior
Essa bondade sem fim!
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Assim como nós (se é dado
Julgar-nos também credores),
Perdoamos de bom grado
Cá aos nossos devedores.
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E não nos deixeis, bom Pai,
Cair nunca em tentação;
Que o homem, por condição,
Sem o teu auxílio cai!
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Mas tu que não tens segundo,
Mas tu que não tens igual,
Dá-nos a mão neste mundo,
Senhor, livra-nos do mal!

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